Polémica, Pudor e Pena. O que sobra e o que falta no caso da ida de Durão Barroso para a Goldman Sachs International.
O debate está lançado e a confusão gerada: Se, por um lado, foram escrupulosamente respeitados os 18 meses de intervalo entre o momento em que Barroso deixou Bruxelas e o anúncio da sua ligação à financeira norte-americana, a verdade é que isso parece insuficiente aos olhos daqueles que vêem esta transferência milionária como um atentado ao bom nome da União Europeia e um desrespeito pelos valores a que presidem ou deviam presidir à sua ação.
Barroso não se inibiu de jogar naquela zona cinzenta entre o ético e o legal, não se importou de associar o seu nome a uma instituição que não tem um histórico isento de suspeições, muitas delas relacionadas com a instituição que dirigiu durante vários anos.
A comissão já lhe pediu explicações e, entretanto, Junker apressou-se a literalmente tirar o tapete ao ex- primeiro-ministro. Barroso deixará de ser recebido em Bruxelas com a passadeira vermelha de outros ex-presidentes e passará a estar sujeito ao “apertado” registo de contactos entre membros da comissão e agentes externos.
Aos olhos das instituições europeias, Durão deixará de ser Barroso e passará a ser da Goldman Sachs.
Por outras palavras, Junker apenas oficializou aquilo que o português aceitou ser ao abraçar o convite do banco norte americano: um lobista profissional. Durão defende-se a si e à Goldman Sachs. Diz-se alvo de um preconceito e critica o facto da decisão de Jean-Claude Junker ter sido tomada antes do Comité de Ética se ter pronunciado acerca dos esclarecimentos que Barroso terá prestado.
Parece-me óbvio que Junker fez o mínimo que podia fazer! Seria (ainda mais) escandaloso que alguém que representa interesses externos fosse tratado como membro da “casa” gozando de privilégios que além de o beneficiarem assim, beneficiariam também uma instituição privada.
O que é quase certo é que o tempo vai passar e este “incidente” vai acabar por cair no esquecimento. Barroso não foi o primeiro e não será com certeza o último com este tipo de rápida transição entre lados da barricada. À sua escala, os casos de Maria Luís Albuquerque e Paulo Portas não deixam de ser também paradigmáticos e não nos podem deixar indiferentes.
Nada tenho contra o setor privado e muito menos contra liberdade individual de cada um, mas não podemos refugiar-nos nessas convicções para ignorar que estes casos não contribuem para a dignificação da classe política que todos desejamos.
A nós, jovens socialistas e democratas, importa-nos refletir, assumir as nossas responsabilidades, lutar pela transparência e pelo respeito pelas instituições democráticas e, como sempre: marcar a diferença por aquilo em que acreditamos!