Mais do que pormenores
Para um jovem estudante português, uma série de questões relativas ao modelo educativo do nosso país, questões que surgem cada vez mais no dia-a-dia do estudante, são mais do que pormenores. É por vezes difícil aceitar um modelo de ensino que pouco ou nada mudou nos últimos 40 anos, principalmente quando os alunos que estão sob a alçada desse modelo e a sociedade portuguesa tanto mudaram nesse período de tempo.
Os problemas do ensino português começam mal a campainha toca e entra um número infindável de estudantes para a sala de aula: números que podem ir dos 26 alunos no 1.º Ciclo a 30 no Ensino Secundário. Nenhum docente (profissionais que felizmente ainda não são máquinas transmissoras de informação) consegue ter à sua frente 26 crianças que não sabem ler, escrever e muito menos estarem sentados e manter os seus níveis de concentração no seu trabalho, tornando-se ainda mais difícil quando têm um elevadíssimo número de anos de serviço (consequência da idade de reforma) ou quando têm pouca experiência.
Também ao nível dos programas e metas de ensino, estes são tão extensos que disciplinas como Educação para a Cidadania acabam por servir como horas extra para concluir o lecionamento da matéria de disciplinas “mais importantes”, como português ou matemática. Na maioria das disciplinas, os programas nem chegam a ser enquadradas no âmbito real e do quotidiano (daí muitas vezes a pergunta “para que é que quero isto na minha vida?”) dificultando a compreensão e propiciando o desinteresse.
Outro dos problemas deste modelo de ensino é que no meio de tantos conteúdos para lecionar, tirar dúvidas é difícil e formar cidadãos ainda mais. Na generalidade dos casos, a participação ativa dos alunos em atividades extracurriculares, que deveria ser valorizada, é, muito pelo contrário, vista como algo negativo ou uma perda de tempo que seria útil ao estudo. Faz falta uma disciplina que possibilite, efetivamente, o desenvolvimento de competências transversais.
No que toca aos Exames Nacionais, provavelmente o ponto mais discutido do nosso modelo de ensino, estes continuam a ter um peso demasiado elevado: o exame nacional vale ainda 30 % da nota final da disciplina. No acesso ao ensino superior o peso que lhes é atribuído não é elevado (como forma de uniformização e método de comparação real) mas na nota final da disciplina, que corresponde a dois ou três anos de intenso trabalho, ainda o é.
Não podemos ter medo de afirmar que o sistema de ensino português precisa de claras e urgentes reformulações e também não podemos ter medo de afirmar que essas mudanças acarretam alguns custos orçamentais. Depressa se levantarão uma série de vozes que defendem que se esses custos não têm retorno não devem ser operados. Difícil é perceber que o retorno se dará a longo prazo: essas mudanças são um investimento na qualificação dos jovens portugueses, na competitividade, na sua preparação para o acesso ao ensino superior ou para o acesso ao mercado de trabalho e ainda na sua formação integral enquanto cidadãos.